Com a previsão da nova tarifa dos Estados Unidos entrar em vigor no dia 1° de agosto, taxando 50% os produtos brasileiros, embarques de pescados, frutas e grãos já começam a ser suspensos para evitar perdas. Um exemplo está no setor de pescados, que já anunciou a suspensão das exportações para os Estados Unidos a partir da semana que vem.
Com cerca de 70% da produção nacional destinada aos americanos, a medida pode tornar o setor inviável até a abertura de novos mercados. A Associação Brasileira da Indústria da Pesca (Abipesca), afirma que o setor tem pressionado o governo a negociar o adiamento da sobretaxa por, no mínimo, 90 dias.
A entidade afirma que ninguém consegue abrir um novo mercado da noite para o dia, ainda mais em uma relação complexa, que envolve hábitos alimentares, tipo de corte, produto e embalagem.
A associação também cobra do governo a retomada das negociações para reabrir o mercado comum europeu, fechado ao pescado brasileiro desde 2017.
Com a ameaça de sobretaxa, até 3.500 embarcações devem ser paralisadas, já que não há sentido em produzir ou processar peixe sem destino certo. Mais de mil toneladas de pescado já estão estocados em frigoríficos, à espera de uma solução, o que representa um valor estimado em cerca de US$ 50 milhões.
Fruticultores temem quebradeira
O setor de fruticultura também colocou pé no freio. As exportações de manga do Brasil para os EUA tiveram negociações suspensas, segundo produtores. O impasse causa preocupação porque a janela de embarques de manga para os Estados Unidos começaria justamente em agosto, prazo para as sobretaxas entrarem em vigor, indo até outubro. No Nordeste, polo da atividade no país, há quem fale em risco de quebradeira no setor.
A manga é a principal fruta in natura exportada pelo Brasil para os Estados Unidos. O problema aí é que o processo de exportação está parado, mas a fruta não espera. Sem os contratos com os americanos, o setor teria de buscar novos parceiros e direcionar parte do estoque de manga para o mercado interno.
Setor de carnes procura outros mercados
O cenário também é incerto no setor de carnes, embora a produção para o mercado nacional siga normal, com as empresas buscando mercados alternativos no exterior.
No Mato Grosso do Sul, a maioria dos frigoríficos está tentando redirecionar a produção para a China e o Chile, além de outras nações possíveis. Quem vai pagar o imposto, nesse caso, é o importador.
Cerca de 70% de toda a carne produzida fica no mercado nacional. Os 30% que são exportados, em sua maioria, correspondem aos cortes que o brasileiro não consome com frequência, principalmente o dianteiro do boi, que vai para os Estados Unidos para utilização de hambúrgueres, além de miúdos, que vão para a Ásia, onde são usados em ensopados e preparações típicas.
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, só atrás da China. Atualmente, respondem por 14% da receita total brasileira do produto.
No primeiro semestre deste ano, as vendas para os americanos tiveram um aumento relevante, com a receita e o volume exportado mais que dobrando em relação ao mesmo período de 2024.
Perda de postos de trabalho
E agora falando do outro lado do tarifaço de 50%, no caso dos empregos, o Brasil pode perder até 100 mil postos de trabalho, segundo estimativa feita por economistas da Universidade Federal de Minas Gerais.
A pesquisa da UFMG aponta que o impacto mais severo será sentido no setor agropecuário, com o risco de eliminação de mais de 41 mil postos de trabalho. O comércio e a indústria de transformação também devem ser fortemente afetados, com a possível perda de 31mil e 26 mil empregos, respectivamente.
Assim, a tendência seria de redução dos preços para o consumidor, mas com prejuízos financeiros para os produtores e riscos para os empregos na atividade. Como é um produto perecível, o preço fatalmente irá cair muito, e o prejuízo vai ser grande para a produção de modo geral, não só para quem exporta para os Estados Unidos.
Foto Ilustrativa: Reprodução dhaneshdamodaran (pixabay.com)
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