A última lembrança física da Cerâmica Raquel, que foi uma das maiores empresas de Pará de Minas em décadas passadas, veio ao chão. Era a sobrevivente das quatro chaminés que deram fôlego aos tempos áureos da era ceramista da cidade, e veio por terra sob a força de dois potentes tratores. Com mais de 20 metros de altura a chaminé desativada ficava no terreno em frente ao Supermercado BH, no Bairro Raquel. Os novos proprietários pretendem transformar o espaço em um pequeno loteamento e a ideia inicial era que o projeto arquitetônico priorizasse a chaminé como centro de uma rotatória.
No entanto, as avaliações técnicas condenaram a permanência dela. Por ser muito antiga, estava com a estrutura comprometida daí o risco de desmoronamento, o que certamente colocaria em risco a vida dos futuros moradores. O processo de derrubada da chaminé exigiu, além da força dos dois veículos, o envolvimento de toda a sua estrutura com cabos de aço. Em menos de um minuto os milhares de tijolos que compunham a construção vieram ao chão, despertando a curiosidade de muitas pessoas que até aproveitaram para filmar toda a cena.
Em breve a área passará por um processo de limpeza e embora ainda sejam poucas as informações sobre o novo loteamento a expectativa é que ele seja uma extensão da Rua Itapecerica, resolvendo o problema antigo de um muro de arrimo comprometido, que já foi alvo de críticas na Câmara Municipal por diversas vezes. O fim da chaminé despertou lembranças nos antigos proprietários do terreno que abrigou a Cerâmica Raquel. Um deles é Everardo Jeunon Diniz, responsável pelo Serviço de Limpeza Urbana da Prefeitura de Pará de Minas.
Ele lembrou os tempos áureos do setor, em que a cerâmica chegou a ter 330 funcionários, além de outros cem que trabalhavam nas granjas pertencentes ao grupo. Mais que gerar empregos, ela entrou para o ranking de Minas Gerais pela produção de telhas francesas de alta qualidade, resultado da matéria-prima de excelência e o processo apurado da queima do barro.
As quatro chaminés sustentavam os oito fornos que funcionavam dia e noite. No entanto, mesmo fazendo grande sucesso a Raquel foi engolida pela carga tributária elevadíssima em um momento de crise do próprio setor ceramista:
A história da Cerâmica Raquel também foi marcada por uma tragédia. O sócio-proprietário Francisco Olivé Diniz, conhecido também por Chico Olivé, morreu aos 53 anos vítima de um acidente na BR 262, quando voltava de Belo Horizonte. Reconhecido na cidade pelo empreendedorismo e também pelo carisma, recebeu várias homenagens em vida e depois da morte. Uma das mais expressivas está na denominação de um dos espaços públicos mais conhecidos na cidade – o Parque de Exposições Francisco Olivé Diniz.