Enquanto o consumidor lida com a alta de preço do leite nas gôndolas, no campo, o valor pago aos produtores avançou quase 20% em julho, segundo dados que acabam de ser divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Com esse aumento, o preço do litro do leite captado chegou a R$ 3,19, batendo o maior valor da série história do Cepea, iniciada em 2004. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a valorização é de 24,7%. Já no acumulado do ano, esta é a sexta alta mensal consecutiva, registrando aumento do preço pago ao produtor em mais de 42%.
Mas sempre há o outro lado da história e enquanto o valor pago só aumenta os custos de produção seguem a mesma trajetória e praticamente anula qualquer ganho do produtor. O aumento dos preços dos insumos agropecuários acontece desde 2019, pressionando a margem de lucro na produção.
Esse é o principal fator apontado por especialistas para o abandono de dezenas de pecuaristas da área nos últimos anos, especialmente aqueles com pequenas produções. É o caso, por exemplo, de Valdecir Eustáquio. Por muitos anos, ele atuou numa pequena propriedade rural em Pará de Minas produzindo leite e comercializando com laticínios da região. Contudo, a balança entre receitas e despesas começou a pesar para o lado errado e Valdecir não viu outra alternativa a não ser encerrar a produção.
O trauma foi tão grande para Valdecir que ele não tem vontade nenhuma de voltar para a área, mesmo se tivesse oportunidade de fazer um grande aporte numa nova produção.
Ainda de acordo com o Cepea, a estimativa para os próximos meses é de uma pressão menor sobre os produtores, devido à queda nas cotações do milho e das previsões de chuva a partir de setembro, com a chegada da primavera.
Caso ocorra essa melhora no cenário produtivo, o consumidor espera que haja um efeito cascata nos preços de venda do leite nos supermercados e padarias. Afinal, o leite sempre foi um alimento presente na mesa do café mineiro.
Foto: Amilton Maciel/Rádio Santa Cruz FM
